BR 174 – Manaus - Boa Vista. 1996
Já havia
aproximadamente uns 48 minutos que rodávamos pela serpente asfaltica que se
estende até Boa Vista. Eu rumava para mais uma aventura radical em Presidente
Figueiredo, meu velho Gurgel Carajás rodava macio e imbatível na marca de seus
120 quilômetros por hora. Olhei para meu relógio que marcava 23h12! Já
deveríamos estar quase próximos da entrada para a pista que conduz a Balbina.
Todos dormiam tranqüilos no carro e eu apenas olhava a junção entre o asfalto e
o céu no horizonte escuro em minha frente enquanto ao longe se formava uma densa
névoa no meio da estrada. Levantei um pouco mais meu vidro para escapar do
frio, diminui o volume do som, eu ouvia The Clash e reduzi a velocidade para
fazer uma parada e uma rápida “ida ao banheiro”. Parei no acostamento, liguei o
alerta e baixei o zíper da calça enquanto certificava-me se tudo estava
tranqüilo ao redor. Neste momento senti um forte formigamento por todo meu
corpo, estranhamente também senti um forte torpor apoderando-se de mim seguido
de calafrios, entrei imediatamente no carro, dei a partida e saí sentindo-me
embriagado e com um ligeiro sangramento na narina esquerda.
Tentei
recompor-me sem entender o que estava acontecendo, apenas reduzi a velocidade
enquanto que com minha mão direita tateava a garrafa termica com café que
propositadamente encontrava-se no console do carro. Após a ingestão do café
senti-me mais aliviado e que meus reflexos voltaram sem mais problemas. Ao
aproximar-me de Figueiredo esqueci-me do estranho ocorrido, encostei-me à
rodoviária, abasteci-me de provisões, abasteci e chequei o carro, comemos e
logo em seguida continuamos a viajem.
01h20min, Km
113, BR174. Olhei pelo espelho retrovisor e vi um farol muito longe que se
assemelhava ao de uma solitária motocicleta, acelerei mais meu carro e aumentei
o volume do som... Em segundos o farol da moto cresceu em meu espelho
retrovisor e quando dei por mim, o troço estava quase colado na traseira de meu
carro irradiando um fortíssimo clarão que me ofuscava e ao mesmo tempo
causou-me medo. Acelerei mais ainda o carro enquanto busquei meu revolver
embaixo do banco do carro, coloquei-o sob minha coxa direita e mantive-me em
alerta. O farol da moto mudou de posição, emparelhou com o carro ao lado de
minha janela e acompanhou-me por exatos 30 segundos. Não era uma moto, não era
um farol, não era nada do que já tenha visto antes! Tratava-se de uma enorme
esfera de luz fria com aproximadamente uns 2 metros de diâmetro semelhante a
uma gelatina cintilante, um abjeto que flutuava poucos centímetros acima do
chão, não emitia nenhum barulho e apenas seguiu-me. Disparou para frente do
carro causando-me uma ligeira queda de energia em meu veículo que também
começou a falhar, para em seguida desaparecer no horizonte tal qual um raio. Deixando
um rastro de luz azul cintilante no caminho.
Parei o
carro para recompor-me e entender o que tinha acontecido, senti mais uma vez
formigamento em meu corpo, um gosto metálico em minha boca e uma sensação de
areia nos olhos que lacrimejavam e ardiam, além do sangramento do nariz. Toda a
área estava com cheiro de ozônio e inacreditavelmente ninguém acordou com toda
essa movimentação. Continuei a viajem com uma fortíssima dor de cabeça e no dia
seguinte todas as pessoas que estavam dormindo no carro, disseram ter sonhado
com luzes estranhas e ofuscantes que surgiam do céu.
Durante toda
a noite do dia seguinte, todos nós nos deleitamos com um verdadeiro espetáculo
de luzes que evoluíam e descrevia formidáveis sinais em pleno ar desafiando de
todas as formas imagináveis a gravidade e as leis que regem as ciências e a
aerodinâmica. As luzes que piscavam no céu eram imediatamente respondidas por
outras estranhas luzes que irradiavam de pontos específicos da floresta. Um
espetáculo formidável e ao mesmo tempo apavorante! Ninguém compreendia do que
se tratava e atribuíam inexplicáveis teorias quanto ao fenômeno com que eu de
certa forma já estava familiarizado. Meus “amiguinhos” estavam com vontade de
aparecer, eu acho! As pessoas começaram a manifestar emoções estranhas e
sensações desconfortáveis também tomaram conta do organismo de cada um,
náuseas, vômitos, diarréia e principio de histeria em algumas das convidadas.
Pedi para que todos se recolhessem para suas barracas e que dormissem, pois o
dia seguinte seria de muitas atividades.
Acordei
muito cedo, inspecionei o acampamento, deixei todos em segurança e resolvi
entrar na floresta rumo ao local dos avistamentos e onde surgiam os focos de
luz que da mata eram enviados para o céu. Após quarenta minutos de caminhada
fui mais uma vez tomado pelo torpor e formigamento pelo corpo, minha visão
ficou turva e entrei em pânico, tentei gritar, mas não havia voz, olhei para
trás e simplesmente desconheci o caminho de volta, chequei a bússola e
constatei que o ponteiro mostrador de navegação ficava dando voltas dentro da
bússola, completamente descontrolado. Vomitei e logo em seguida desabei em
profundo sono no meio do mato fechado, simplesmente apaguei! Eu que não consigo
dormir durante o dia, muito menos em meio à floresta fechada e principalmente
em um lugar que desconheço totalmente.
Despertei
oito horas depois completamente grogue e com uma terrível dor por todo meu
corpo, dois grandes galos na cabeça e três marcas de furos nas veias do braço
direito. Ninguém também soube explicar como foi que sai sequinho da floresta
após 6 horas de forte chuva... Só posso dizer que depois deste dia, apesar de
não lembrar absolutamente nada, eu passei a ouvir zumbidos de freqüência de
rádio, vozes, passei a ver luzes estranhas nos céus, ver seres estranhos,
sentir coisas estranhas e até mesmo prever alguns acontecimentos... Minha vida
mudou muito de lá para cá! Passei a viver uma espécie de vida dupla onde
concentro quase uma boa parte de meus dias em assimilações de orientações
vindas de lugares muito distantes daqui. Uma coisa muito nova para mim e ao
mesmo tempo totalmente familiar, algo que me foi de cara facílimo aceitar e
compreender, uma nova possibilidade de vida para mim, uma resposta precisa para
a infinidade de duvidas que me torturavam constantemente. Uma verdadeira transformação
que permite-me interagir com algo completamente fora dos padrões impostos para nossa
atual forma de entender e aceitar a vida. Tornei-me outra pessoa, acredito
piamente que há de fato algo lá fora, algo extraordinariamente fantástico e que
está muito próximo de acontecer, uma coisa surpreendente que irá mudar
completamente os rumos de nossa raça e o sistema comportamental de nossa
civilização sob todos os aspectos. Eu ainda estarei aqui para ver o início
destas transformações, mas não estarei mais aqui quando tudo isso estiver em
conclusão final! Disso eu já sei...